Todos juntos contra a AIDS
O século passado foi marcado, em termos epidemiológicos, pela grande explosão da AIDS. Em consequência, o final do século 20 e o início do 21, foram marcados pela grande quantidade de planos para conter a expansão da doença.
Felizmente, há, hoje, na sociedade, um consenso: todos estão contra a AIDS. Vamos analisar os meios dos diferentes atacantes:
Canadá:
AIDS is still around. AIDS ainda está por aí.
A propaganda é baseada em imagens, com tons preto-e-branco para demonstrar melancolia do doente. Definitivamente, vai direto ao ponto. Retrata que a transmissão de AIDS acontece tanto nas relações homossexuais como nas heterossexuais. E, claro, no uso de drogas injetáveis e seringas compartilhadas. A ausência do sexo oral nas imagens pode ser explicada pelos insossos dados relativos a transmissão de AIDS por esse meio:
"As evidências sugerem que o sexo oral parece ser a forma menos arriscada para a transmissão do HIV. Entretanto, parcerias homossexuais e heterossexuais normalmente realizam sexo oral conjuntamente com sexo genital e, assim, não é possível comparar-se os riscos desses dois tipos de atividade sexual. Isoladamente, o risco da transmissão pelo sexo oral pode ser aumentado na vigência de inflamação ou ulceração na boca, na vagina ou no ânus" Ref. 1Sendo assim, não podemos criticar isto na campanha. O bom da campanha é que ela é um tanto quanto leve, não traz impacto direto (não criando oponentes diretos), muito por serem lápides e pelo elemento causador da melancolia, já citado. A data (1981) não foi solta ao acaso: Nesse ano foram feitos os primeiros diagnósticos da, na época, GRID (Gay Related Immuno Deficiency, atualmente AIDS). A relação com o homossexualismo se dava pelo surgimento dos casos apenas em homossexuais, gerando distúrbios de pele comuns apenas na 3ª idade. A frase vem para lembrar que, mesmo com todo o mundo avançando, a AIDS está por aí. Nota-se um certo remetimento ao passado, visto que lápides tão vistosas estão, pelo menos no Brasil, fora de moda - e de viabilidade econômica. Portanto, a propaganda faz a ponte entre o passado e o presente: a AIDS.
França:
Sans preservatit, c'est avec le sida que vous faites l'amour. Protegez-vous. Sem preservativo, é com a AIDS que você faz amor. Proteja-se.
Definitivamente, o impacto dos franceses é muito maior. A propaganda utiliza de ambientes claros para dar realce à cena em primeiro plano. O uso de pessoas reais deixa tudo mais próximo a nós: pessoas de carne e osso sofrem com isso. Os Aracnídeos estão presentes graças a comum repulsa por esses Artropodes, comumente venenosos. Ou não? Muitos criticaram a propaganda pela escolha e colocação dos animais. Normalmente, "aranha" (por motivos óbvios) está relacionado com a mulher e o escorpião (por motivos mais óbvios ainda) está relacionado com o homem. Logo, tal propaganda deixaria subentendido que a AIDS só é problema para os homossexuais (Ref. 2). Uma defesa para a propaganda é que, com o escorpião virado com o ventre para o homem, seria (pensando na anatomia humana) impossível - em teoria - uma relação homossexual. A frase explica a propaganda, o inimigo com quem fazemos sexo, quando desprotegido, é a AIDS. Ao contrário da primeira, o sexo oral foi colocado aqui, deixando de lado o uso de drogas injetáveis, ato falho - visto que o segundo é vetor muito mais perigoso da doença. Finalizando, a propaganda deixa a entender que as francesas não usam nada por baixo: a calça do excitado rapaz está na parte inferior da foto, mas, cadê a calcinha da moça?
Brasil - Governo:
A propaganda atende a vários pontos: combate o preconceito, promove o uso de métodos para evitar a transmissão de AIDS e, ainda por cima, dá a idéia de que os homossexuais tinham uma relação estável (Leia-se namoro), portanto não levavam uma vida promíscua, na qual a transmissão da AIDS é facilitada. Só faltou a lembrança da transmissão heterossexual e pelo uso de drogas injetáveis.
Brasil - ONGs:
A propaganda é toda tenebrosa e é, desculpem, ridícula. A idéia não é combater a AIDS? Eles preferiram combater a instituição Igreja Católica. Não é educativa, afinal não fala nada da doença. Vamos tratar disso na sequência.
Igreja Católica:
Depois do vídeo, "Calma aí", você diria. A Igreja Católica apregoa que ninguém use camisinha! Isso é um pensamento retrógrado que propicia a transmissão de AIDS. Certo. Porém ela apregoa, também, que todos devemos ter um parceiro, não devemos ser promíscuos nem trocar de parceiro como se troca de roupa. Definitivamente, o melhor método de prevenção da AIDS e de qualquer outra doença sexualmente transmissível. Mas será que o "Duda Mendonça" do Vaticano não anda pisando na bola? Vamos ter como base a "Carta às Famílias do Brasil", de Dom Rafael Llano Cifuentes (Ref. 3), e alguns trechos, a serem citados, dela.
"(...)a feição que tem as propagandas que às vezes aparecem: “aproveite o carnaval, mas use ‘camisinha’”. Aceita-se um pressuposto inadequado – a promiscuidade – e inclusive incentiva-se a mesma: “não se iniba, divirta-se, mas – cuidado! – use ‘camisinha’”. " Ref. 3Primeiro e maior erro dos pontífices: ao invés de corroborar com a própria causa, preferem criticar o "inimigo", igualando-se a propaganda anterior (à qual a carta de Cifuentes é um ataque). Igual ao segundo turno presidencial do Brasil: Lula dizia que Alckmin era privatista e esse, por sua vez, dizia que Lula era ladrão. Ninguém tentava mostrar que era melhor que o outro, mas sim que o outro era pior que ele próprio. O segundo trecho da carta - "Esclarecimentos necessários" - só serve para criticar as propagandas pró-camisinha, assim como o texto com um todo.
"Pode-se, intelectualmente, ser favorável às relações sexuais pré-matrimoniais, mas ninguém gosta que uma filha de quinze anos fique grávida, ou que um filho de quatorze anos seja pai." Ref. 3Aí a crítica a camisinha é misturada com um dogma da igreja católica: não se pode realizar o planejamento familiar mantendo as relações sexuais, seja em matrimônio ou não: nem todos que fazem sexo com 14/15 anos vão engravidar. Isso é questão de educação (sexual).
O grande erro da Igreja Católica é se preocupar mais em criticar a camisinha do que em disseminar os hábitos de fidelidade e monogamia, saudáveis e excepcionais no combate a AIDS. Portanto, quem peca aqui não é quem usa camisinha ou não, e sim a Igreja, que tem o trunfo na mão e não auxilia a população como deveria.
Uganda:
Uganda é o único caso de sucesso absoluto conhecido. Veja o gráfico:
Ele mostra a Porcentagem estimada da população com AIDS no decorrer dos anos. O programa de Uganda se baseia em seguir três simples atos, em conjunto ou não:
- Abstinência
- Fidelidade
- Preservativos
Ref. 5
Vê-se que a abordagem trata primeiro de suscitar a conversa sobre a doença, para, aí sim, abordar temas como abstinência, fidelidade e preservativos.
Agora, a pergunta é: por que nenhum país, até agora, copiou o plano, funcional, de Uganda? A camisinha, isolada, não está fazendo um bom trabalho em local algum, tanto na África como no resto do mundo. Custaria tentar salvar a vida de milhares de pessoas e, de quebra, re-estabelecer os laços da instituição família, ou diminuir a promiscuidade com que convivemos? Acho que não. Alguém não quer dar o braço a torcer de que a camisinha, só, falhou.
Agora, a pergunta é: por que nenhum país, até agora, copiou o plano, funcional, de Uganda? A camisinha, isolada, não está fazendo um bom trabalho em local algum, tanto na África como no resto do mundo. Custaria tentar salvar a vida de milhares de pessoas e, de quebra, re-estabelecer os laços da instituição família, ou diminuir a promiscuidade com que convivemos? Acho que não. Alguém não quer dar o braço a torcer de que a camisinha, só, falhou.
Referências:
Ref. 1: FUNARI, Sergio Luis. Sexo oral e HIV entre homens que fazem sexo com homens. Disponível em:scielo.br/pdf/csp/v19n6/a28v19n6.pdf . Consulta dia 24 de Novembro de 2006.
Ref. 2: onda corta. Sida a la francesa. Disponível em: zuri-yiyo.blogspot.com/2006/04/sida-la-francesa.html. Consulta dia 24 de Novembro de 2006.
Ref. 3: CIFUENTES, Dom Rafael Llano. Carta às Famílias do Brasil: A educação afetiva e sexual dos filhos e o uso do preservativo como inibidor da AIDS. Disponível em: portaldafamilia.org/artigos/artigo207.shtml. Consulta dia 24 de Novembro de 2006.
Ref. 4: AVERT. HIV & AIDS in Uganda. Disponível em: avert.org/aidsuganda.htm. Consulta dia 26 de Novembro de 2006.
Ref. 5: Human Rights Watch. Reprinted from the Ministry of Education and Sports, PISACY, Helping Students Stay Safe, © Ministry of Education and Sport 2003. Disponível em: hrw.org/campaigns/aids/2005/uganda/photos/index.htm. Consulta dia 26 de Novembro de 2006.
Ref. 1: FUNARI, Sergio Luis. Sexo oral e HIV entre homens que fazem sexo com homens. Disponível em:
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