quinta-feira, outubro 26, 2006

O Eleitorado de Lula

Lula quase sai vitorioso no primeiro turno. Sua porcentagem beirou os 49% dos votos válidos. Mas... O país está ruim, a corrupção é escancarada dia-a-dia (mensalão, sanguessugas, dossiês, listas de Furnas, quebra de sigilo ilegal...), o nosso PIB cresceu menos que o da Argentina, nossos serviços públicos estão um caos, as estradas foram "tapadas" (e mal tapadas, diga-se de passagem) a custo de um superfaturamento de até 117%. Quem diabos é louco o suficiente para votar no Lula? Vamos aos números:

Lula, em quantidade, conseguiu o maior número de votos em São Paulo, seguido de perto pelo Nordeste. Porém, é um número maciço. Vamos às porcentagens nas regiões:

Aqui podemos tirar uma conclusão melhor: Lula só conseguiu maioria absoluta (dos votos válidos, é claro) nas regiões Norte/Nordeste. Por que essas regiões são as eleitoras mais assíduas de Lula? Observem os gráficos a seguir:

As duas regiões (Norte e Nordeste) em que Lula tem mais de 50% apresentam os maiores níveis de analfabetismo do Brasil, clara pouca diferença entre o Centro-Oeste e o Norte, porém igualmente clara a diferença entre "todos" e Nordeste, com uma taxa de analfabetismo 241% maior que a do Sul do país.

A região (Nordeste) com maior expressão numérica eleitoral, em que Lula ganha, é a que tem o maior número de Famílias atendidas pelo "Bolsa-Família".

Novamente, a região Nordeste aparece em primeiro lugar no recebimento de verbas do "Bolsa-Família": 2,8bi em 12 meses.

Na região Nordeste, a penetração da mídia é claramente baixa. Um local aonde nenhum estado atinge 10% de domicílios com computador mal tem amparo para escolher seus candidatos.

Só para comparação, na região Sul nenhum estado fica abaixo dos 20% .

Claro fica aqui que a campanha de Lula baseia-se na compra descarada de votos dos eleitores menos graduados e com menor acesso à informação. Não que os nordestinos sejam incapazes de dicernir o "certo" (entre aspas, porque ele não existe), do errado. O fato é que, desde que o Brasil é Brasil, o Nordeste é jogado para escanteio. Quer políticas recentes? O Gasoduto Brasil-Bolívia (Ou "Cocalívia"), assinado por Itamar Franco (Isso, aquele do topete, que o Fernando Henrique Cardoso passou a perna aprovando a re-eleição) não passa nem perto do Nordeste. Lá nunca terá indústria alguma? Pois bem, o mesmo senhor rasteiro que deixou o topete na saudade expandiu um projeto de cunho social e muito bom (Bolsa-Escola, de Cristovam Buarque), o transformando em um projeto populista de compra de votos, afinal, com a avacalhação do mandato 1999-2002, o FHC tentara deixar alguma coisa para o PSDB. Felizmente ou infelizmente não deu certo, a felicidade da compra de votos foi explodir na mão de Lula, que vai levar o doce comprado pelo Fernando Henrique Cardoso. Veja como é o País: Já são 8 anos seguidos de puro populismo e ninguém fala nada. Aposto que os 2,8bi que foram para o Nordeste em 12 meses, dariam ótimas escolas. Essas sim, tirariam o povo da miséria. Escola é caro? Nada! Veja essa imagem:

Foi levantada a Universidade do Litoral do Paraná com "apenas" R$8.540.000. Isso significa que, com a verba de um ano do "Bolsa-Família", construiriam-se 337 universidades, e ainda sobrava R$1.267.137 para o cafézinho e para o churrasco do final da obra. Dava para dar futuro para o Nordeste. Mas o PSDB e o PT preferem dar esmola. E, como já diziam, "Esmola não dá futuro". Logo, esses aí do segundo turno só querem o Nordeste na lama. Por que? Se o Nordeste aprender a ler e a escrever, e ter a capacidade de discernimento... Ahh meu amigo, acho que o quadro político nacional não seria o atual. E o mesmo vale para todas as outras regiões, que estão um pouco melhores só, mas precisam, igualmente, de educação.

E como "imparcialidade" é pro William Bonner (Fiél protetor e eleitor do Lula), eu vou de Geraldo Alckmin nesse segundo turno. Ele é melhor que o Lula? Não. Tem propostas melhores? Não. Vai mudar o país? Não. Só que, pelo menos, ele diz que vai dar uma aliviada na carga tributária. O FHC não o fez, muito menos o Lula. Ambos trataram de arrancar ainda mais as víceras da classe média. Só que o Alckmin abaixou os impostos em São Paulo, se fizer isso a nível nacional, dá um belo fôlego para o Brasil, que já caminha sozinho, sem a ajuda de governo algum, faz muito tempo.

Referências:

Ref. "TSE": Tribunal Superior Eleitoral. Disponível em: <http://www.tse.gov.br/> ; Acesso em: 10 out 2006

Ref. "IBGE": Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Disponível em: <endereço muito longo, clique>; Acesso em: 10 out 2006

Ref. "IBGE PNAD": Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística: População e Domicílios - PNAD. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/estadosat>; Acesso em: 10 out 2006

Ref. "MDS": Ministério do Desenvolvimento Social. Folder da SAGI de dados referente ao ano de 2005. Disponível em: <endereço muito longo, clique>; Acesso em 10 out 2006

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sábado, outubro 07, 2006

Vota Brasil 3

Uma coisa temos de dizer. A máquina democrática brasileira é um arraso. Não tem pra ninguém.


O TSE (Tribunal Superior de Justiça) distribuiu um programa chamado "Divulga 2006" para acompanhamento em tempo real da eleição no país. Talvez alguns brasileiros digam que isso é a coisa mais normal que se tem. Mas, por exemplo, em Portugal existem movimentos a favor do voto eletrônico, visto que ele não é utilizado no país. Nos Estados Unidos vimos a demora e o problema da recontagem de votos na eleição de George Bush. No Brasil é mais rápido que rastilho de pólvora. E isso é único no mundo.

Eu moro em Curitiba, no estado do Paraná. Votei pela manhã, numa seção do meu bairro, como disse no post anterior. As eleições, aqui, foram encerradas as 17h, horário de Brasília. Veja que interessante:

As 19h35, apenas 2h35 após o encerramento das eleições, já estavam apurados os votos de 1.217.263 eleitores. Tudo bem que 169.577 não compareceram, mas, ao passar do traço, obtivemos a contagem de 6759 votos por minuto. Digamos que cada contador de cédula chegasse ao ótimo resultado de 20 cédulas por minuto (3 segundos por cédula), e não parasse um segundo sequer, precisaríamos ainda de 338 pessoas contando nesse ritmo frenético, todas ao mesmo tempo. Esquecendo ainda que, como disse, os resultados teriam de ser colocados só ao final da contagem, e não em tempo real. Mas não é só isso:

Adrianópolis, situada a 220km da capital (Curitiba), terminou de contabilizar os votos as 19h06. E, claro, eu e qualquer pessoa do Brasil ou Mundo estavam sabendo disso. Isso fora, é claro, os votos para Deputados. Estes são inigualáveis:

1.047.686 votos, distribuídos por 516 candidatos (mais as legendas) contabilizados em 2h35.

Agora vem a questão do "patrocínio". Para a divulgação on-line, o governo usou do apoio da mídia. Explicando: o TSE contabiliza e divulga para alguns órgãos que, com seus sevidores, redistribuem os resultados para quem quiser. Os que fizeram a redistribuição foram:

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Vemos três grandes emissoras de televisão aberta, a câmara e o senado, uma emissora de televisão aberta educativa, dois grandes portais da internet e o sistema de rádio estatal. Patrocínio plural, logo a possibilidade de alguma manipulação é inexistente.

A eleição nacional para presidente foi encerrada dia 02/10 as 17h25. Um resultado recorde para um país com a extensão territorial e de pobreza do Brasil. E olha que depois das 3h da madrugada do dia 02, só faltavam algumas "urnas problema", como a que foi sequestrada por um grupo de índios que queriam comida e gasolina (Ref.1). Abaixo, os resultados para "simples conferência":

Voltando ao começo da conversa: a máquina democrática é perfeita. Só falta arrumar os votantes...

Referências:

Ref. 1: LULA, Edla. Radiobrás: Agência Brasil. Disponível em: Acesso em: 5 out 2006

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domingo, outubro 01, 2006

Vota Brasil 2

Hoje é a eleição. Ato da democracia. Se bem que num estado como Alagoas onde 31% da população é analfabeta (Ref.1), 92% da população não usa internet nem uma vez a cada três meses (Ref. 2), e 86% das casas tem banheiro (Ref. 1), democracia é uma coisa meio... utópica.

Bem, vamos nos focar na minha cidade: Curitiba. Caminhei até a escola próxima de casa (Zona 003, Seção 551) para confirmar meu voto e meu dever de cidadão em participar na decisão do futuro de meu país. Tinha decidido não votar em candidato que fizesse boca de urna nem naquele que jogasse santinhos no chão... Tinha.

Ao chegar próximo a escola, não vi boca de urna. Lá havia um policial, acho que isso coibiria qualquer atitude deste tipo. Mas, quanto aos santinhos:







Tinha até começado a bater fotos de cada um quando saí de casa. Mas depois que eu vi isso, pensei: "A lista completa de candidatos já está na parede da seção eleitoral e no site do TSE".

Quando vão aprovar uma lei que pare de uma vez com isso? A 11.300/2006, parcialmente vetada pelo Lula, já colaborou um pouco. Mas ainda é muito pouco. A distribuição de santinhos deveria ser, como a da veiculação por meio de internet, proibida a partir de 48h antes da eleição. Digo mais: 72h. Poluir o meio ambiente e destruir papel por tolice é inadimissível. Quem colocará a mão na lama para pegar os santinhos? Ninguém. Só entupirão bueiros e corroborarão com o sofrimento da famílias que perdem tudo em enchentes.

Cabe aqui voltar ao Alagoas. A internet é o melhor meio para divulgação de propostas. Pode-se ler com calma, salvar e ainda remeter sugestões e críticas ao candidato no ato. Mas, como usar disso num estado em que 92% das pessoas não acessam a internet? O Brasil continuará no lixo, em todos os sentidos.

Referências:

Ref. 1: IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. PNAD - População e Domicílios 2005: Alagoas. Disponível em: site muito longo. Acesso em: 1 Out 2006.

Ref. 2: IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. PNAD - População e Domicílios 2006: Alagoas. Disponível em: site muito longo. Acesso em: 1 Out 2006.

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